Violenta reitegração de posse

11.12.2007 - SPTV - Por Monalisa Perrone e Janaína Lepri

A PM foi cumprir uma ordem judicial para desocupar um terreno no Real Parque. A área pertence ao governo estadual. Em pouco tempo a maioria dos barracos estava no chão. "A gente vai morar aonde? Com criança com tudo, a gente está morando aqui porque precisa", gritava uma senhora. Desesperados, os moradores invadiram a pista expressa da marginal Pinheiros. A reação do polícia militar foi imediata. No meio do confronto, o spray de pimenta atingiu também as crianças. "Jamais nenhum policial iria direcionar o gás pimenta em uma criança. Pelo vento, o gás acabou também nas crianças, aí eles saíram do local”, afirmou o capitão da polícia militar, Ezequiel Morato. Tumulto na pista e tumulto na favela. Foi preciso reforço policial para tirar os moradores, que reagiram jogando pedras. De repente balas de borracha e gás lacrimogêneo. Uma mulher grávida passou mal e foi socorrida. O terreno pertence ao governo do estado e fica numa das regiões mais valorizadas da zona sul. Próximo de condomínios de luxo e obras importantes. As autoridades estaduais dizem que o local começou a ser invadido há três meses. Às 16h as máquinas pararam de trabalhar e a remoção passou a ser só manual. Segundo a Empresa Metropolitana de Água e Energia, a dona do terreno, havia 140 barracos, mas só a metade estava ocupada. “Das 70 famílias que nós encontrarmos aqui, 35 foram alocadas em hotéis e são pagos pela Emae. E as outras 35 optaram por voltar, irem para outras residências ou casa de parentes”, afirmou o secretário estadual de Saneamento e Energia, Amauri Pollachi. Na hora de ir embora cada um pegou o que tinha de mais importante. Um menino só levou uma pipa. Caos no trânsito A desocupação parou o trânsito na região e provocou um efeito dominó. Às 11h30 foram registrados 153 quilômetros de congestionamento, o recorde deste ano no período da manhã. O motorista ficou sem ter para onde ir. Carros, caminhões e ônibus ocuparam todas as faixas da pista expressa da marginal Pinheiros. Na pista local, onde foram organizados desvios, marronzinhos tentavam orientar os motoristas. A confusão se estendeu à marginal Tietê, à rodovia Castelo Branco e às ruas próximas. Até o Papai Noel ficou preso no congestionamento. Às 15h30, o motorista ainda enfrentava os reflexos do problema. O congestionamento seguia por toda a marginal Pinheiros, chegava ao Cebolão, atingia a Castello Branco e continuava pela marginal Tietê até a rodovia Ayrton Senna. Às 16h, duas faixas da pista local da marginal Pinheiros foram liberadas. Uma das faixas foi interditada para que os caminhões retirassem todo o entulho do local da desocupação. E uma faixa a menos fez falta. Apesar do esforço dos marronzinhos, 17h30, o motorista que seguia em direção a zona sul ainda enfrentava muita lentidão. No começo da noite, a CET liberou a faixa que estava interditada. O problema é que a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana foram embora e o clima voltou a ficar tenso. Os moradores furaram o pneu de um ônibus para tentar bloquear a pista de novo. A defensoria pública da regional de Santo Amaro informou que vai entrar com recurso na justiça para revogar a liminar de reintegração de posse se a desocupação atingir outros barracos da favela.

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